É comum, um dia de trabalho sentirmos um desconforto nas pernas. Isso pode ser apenas cansaço. Mas, poderá ser um sinal de alerta para a existência de uma doença vascular. Para nos ajudar a compreender um pouco mais sobre as doenças vasculares, a Odonto Nordeste conversou com o Cirurgião Vascular Dr. Adaylton Aragão. O especialista explica quais as principais doenças vasculares, os sintomas e cuidados preventivos.
Odonto – Para iniciarmos, gostaria de saber, quais são os motivos que levam uma pessoa a procurar um cirurgião vascular?
Adaylton – O primeiro deles são as dores. O especialista avalia que tipo de dor, a qualidade dessa dor, onde se localiza a dor, o quê desencadeia essa dor. A partir dessas perguntas é feita uma investigação, se a dor estão relacionada aos sistemas venoso, arterial ou linfático. Outro sintoma É o edema, ou seja, o inchaço da perna. De manhã cedo ou no final do dia, a pessoa percebe o inchaço. Nesse caso temos que analisar o tipo de inchaço, o aspecto do edema, se ele forma uma depressão quando a gente comprime, o aspecto da pele, se a pele é brilhosa, se a pele é opaca, se tem um aspecto de casca de laranja. Então, o especialista vai investigando qual o tipo de doença o paciente vai ter. Além da dor e do inchaço existe as manchas na pele. É muito comum o paciente chegar ao consultório com queixa de mancha.
Odonto – Em relação é manchas, esse sintoma é recorrente?
Adaylton – Doenças venosas geralmente causam manchas na pele. Talvez seja uma das principais causadoras de manchas na pele. Mas, é importante frisar que existem vários outros tipos de manchas. E quando elas não estão ligadas as doenças vasculares, elas são tratadas pelo dermatologista.
Odonto – Dor, inchaços e manchas na pele, existem outros sintomas?
Adaylton – Há outro sintoma que são as vísceras de perna. A grande maioria, 90% das vísceras dos membros inferiores são de origem venosa, origem vascular. Aproximadamente, 5% são causadas por doenças arteriais e os outros 5% são oriundos de várias outras causas que podem ser reumatológicas, doenças do sangue, doenças do colágeno. Essas Últimas são menos vasculares, mas são investigadas e tratadas pelo Cirurgião Vascular. E um último sintoma é a dormências nas pernas. Principalmente, no paciente diabético tipo 1, jovem. Nesse caso, o paciente chega ao consultório afirmando: É Doutor não sinto nada. A Única coisa que sinto é uma dormência nos pés, uma dormência no dedo, e Às vezes sinto como se ele estivesse inchado, grosso. Pego nele e sinto como se não estivesse pegando.
Odonto – Dr. Adaylton, esses sintomas apontados estarão sempre relacionados As doenças vasculares?
Adaylton – Há uma confusão. Porque é qualquer sintoma desses, o paciente é encaminhado para um Cirurgião Vascular. E nem sempre o problema é vascular. Como por exemplo, na maioria das vezes a dormência sozinha não é causada pela vascular e sim por um problema neurológico. Quem é responsável pelo tato não é o vaso, é o nervo sensitivo.
Odonto – Há quase que consenso de associar doenças vasculares as pernas. Nesse sentindo, outros membros do corpo podem sofrer problemas vasculares?
Adaylton – Onde existem vasos, existe possibilidade de doenças vasculares. Um exemplo de doenças vasculares que fogem das pernas são os aneurismas. Os aneurismas de aorta torácica acedente, de aorta torácica descendente, aorta abdominal, os aneurismas das artérias viscerais, os aneurismas da artéria e também doenças ateromatosa.
Odonto – Você pode explicar melhor o quê são as doenças ateromatosas?
Adaylton – Doença ateromatosa é a aterosclerose, ou seja, a deposição de placas de gorduras ou de calcificação nas paredes dos vasos que pode obstrui-los. Cresce tanto que obstrui a passagem de sangue de determinado Aragão, ou também pode acontecer uma dissecação. Existe o perigo de uma dessas placas se romperem e a pressão do sangue ir fatiando essa parede do vaso. Qual é o problema disso? O vaso se romper, sangrar para dentro do abdome, ou essa parte que está rasgada fechar a luz do vaso e obstruir a passagem do sangue para as pernas ou demais vasos. Normalmente, a secação aguda da aorta produz uma dor muito intensa, queda de pressão arterial por conta da dor, e uma suspeita de hemorragia no abdome.
Odonto – Ainda sobre as doenças vasculares que não afetam as pernas, o que podes explicar mais?
Adaylton – Doenças das carétidas que também é causada pela aterosclerose. O depósito de gordura na parede do vaso ou calcificação vai obstruindo a passagem de sangue para o cérebro. Então, quando essa placa de gordura cresce demais e obstrui a passagem de sangue, o paciente tem AVC isquêmico, o quê é chamado popularmente de trombose. Lembro que o derrame é diferente de trombose. Ele (derrame) acontece quando o AVC é hemorrógico. Quando um vaso de dentro do cérebro se rompe e sangra para dentro do cérebro. Outra causa não é a obstrução completa, mas a quebra dessa placa. O fragmento sobe e tampa uma artéria do cérebro, que resulta em um AVC isquêmico de proporção menor, mas de risco. Pois, pode gerar eventos transitórios. O paciente pode desmaiar, ter um apagamento da vista que chamamos de amaurose fugaz e de repente voltar tudo normal, lembrando de tudo de novo. Esse fato, chamamos de ataque isquêmico transitório. Nesse caso é preciso investigar se há uma placa ulcerada na carétida, que possa explicar o fragmento que subiu para o cérebro. Outra coisa interessante é a Síndrome do Desfiladeiro Torácico.
Odonto – E o que é a Síndrome do Desfiladeiro Torácico?
Adaylton – Na passagem das artérias, das veias e dos nervos para os braços, temos o que chamamos de cintura escapular. Nessa passagem, há basicamente três pontos em que pode haver uma compressão externa de vasos e nervos. Primeiro no cruzamento entre a primeira costela e a clavícula, no cruzamento da musculatura, que fica sobre a clavícula; segundo entre a clavícula e a costela, que são os maísculos escalenos e terceiro na articulação acromioclavicular (perto do ombro). Essa é uma Área de extrema movimentação, cheia de ligamentos, que passa o nervo oriundo do pescoço para o braço, as veias que vem do braço para o coração e a artéria que sai do coração e leva o sangue para o braço. Pode haver uma compressão externa em um desses três pontos causando uma obstrução da passagem do sangue.
Odonto – Caso ocorra é obstrução do sangue, o que o paciente pode sentir?
Adaylton – 70% da síndrome do desfiladeiro torácico são por compressão do nervo. Então, É muito difícil você ter uma compressão de veia ou de artéria, sem ter a compressão do nervo também. Sendo assim, a maioria dos sintomas é de origem neurológica. São dormências e formigamento no braço, principalmente, quando estiver fazendo alguma atividade que exija da musculatura dos ombros. Isso é muito comum em cabeleireiros.
Odonto – Por que as doenças vasculares são mais recorrentes nas pernas?
Adaylton – Primeiro porque não fomos feitos para andar de pé. Isso porque não temos nada para bombear o sangue de volta para o coração. O que fizemos foi, criar ao longo do tempo, uma segunda bomba muscular, que é musculatura das pernas. Ao longo do tempo as nossas pernas, meio que fazem esse bombeamento, na medida em que a gente estão em atividade. Porém, quanto mais passa o tempo, mais sedentárias ficam as pessoas. Ou seja, a musculatura das pernas fica mais flácida, menos hipertrófica, ocasionando o desenvolvimento de mais doenças venosas. Essa bomba muscular não estão tão eficaz. O fato é que não temos uma bomba nas pernas, como a do coração, bombeando de volta o sangue para o maísculo cardíaco. E quando se estão de pé, o sangue tem que lutar contra a força da gravidade, para poder subir de volta para coração. Para isso, o corpo desenvolveu válvulas, as veias possuem válvulas, que impedem que o sangue reflua, ou seja, desça.
Odonto – E quando o sangue não consegue subir das pernas para o coração
Ele fica parado fazendo pressão na parede de dentro para fora. Isso vai dilatando as veias, e essa válvula já começa a não se encostar mais, ficando incompetente. Isso não permite que o sangue reflua. AAs aquela veia que está normal nas pernas, recebe mais sangue, dilata mais ainda e a válvula daquela região começa a ficar incompetente. Então, quanto menos atividade física, quanto menos tempo eu fico com as pernas para baixo, mais varizes eu vou formar.
Odonto – Há outros fatores que colaboram para a formação de varizes?
Adaylton – Sim, alguns deles são: a gestação, genética, obesidade.
Para quem passa muito tempo sentado, caso, do cirurgião dentista, quais as orientações para evitar doenças vasculares?
Uma delas é a cada 1 hora sentado 1 minuto de caminhada. Isso vai ativar a bomba das pernas, ativar a circulação, diminuir a incidência de insuficiência venosa e complicações em decorrência da insuficiência venosa. É preciso saber que o fato de estão sentado muito tempo, ele vai ter pelo menos a dobra do joelho, e a dobra da articulação coxo-femoral. Essas duas dobras já irão dificultar a subida do sangue, são duas curvas para o sangue vencer para subir. Isso irá fazer com que o sangue dele fique mais acumulado nas pernas. E se cruzar as pernas, a dificuldade para o sangue subir irá aumentar mais ainda.
Odonto – A partir dessa contextualização, o quê um cirurgião dentista pode sentir no final de um dia de trabalho?
Adaylton – Ele pode sentir que as pernas estão mais inchadas, que o sapato estão apertado. Quando ele tira o sapato, percebe que o pé está mais inchadinho. Ele aperta o pé e fica uma depressão na pele, que demora um pouco mais a desaparecer. A perna pode está mais quente, mais vermelha devido é dilatação venosa. E ele pode notar, ao longo do tempo, a existência de microvasinho, que são as aranhas vasculares, como também varizes grossas.
Odonto – Ao notar esses sintomas, o que o cirurgião dentistas deve fazer?
Adaylton – É recomendado que esse profissional procure um cirurgião vascular para que seja avaliado o nível de insuficiência vascular e insuficiência venosa que ele estão tendo. E a partir dessa avaliação, ser orientado para um tratamento. Ele vai precisar usar uma meia elástica compressiva durante o período em que esteja muito tempo sentado com as pernas para baixo. Essa meia compressiva irá lhe trazer mais conforto no final do dia, e lhe proteger contra a formação de varizes e contra complicações como a trombose venosa.
Odonto – È verdade que a meia elástica compressiva causa desconforto?
Adaylton – Meia elástica não é para trazer desconforto. Caso isso acontece é porque a meia estão inadequada para a sua perna. A meia elástica é para ser do tamanho adequado, da compressão adequada e da largura do tornozelo adequado. Por conta disso, as meias de média compressão e alta compressão são vendidas sobre prescrição médica. E a gente orienta que procurem comprar, essas meias, em casas de produtos hospitalares e de produtos ortopédicos. E que testem a meia na loja para saberem se a meia estão no tamanho adequado.
Odonto – Quais são as dicas para saber se a meia estão no tamanho adequado?
Adaylton – A meia não deve enrolar. Uma meia é, por exemplo, ela não deve ultrapassar a linha da dobra do joelho. Ela precisa ser de 1 à 2 dedos abaixo dessa dobra, ela não pode incomodar nessa área. Ele precisa estar bem esticada e sem incomodar nessa região. Vestiu a meia e ela passou da linha do joelho, devolva-a, pois, ela estão no tamanho inadequado para você. Ela irá enrolar e isso produzirá camadas de compressão uma encima da outra, que gerará desconforto e piorará a circulação.
Dr. Adaylton Aragão Correia
Médico Cirurgião Vascular
Contato: adayltonaragao@gmail.com